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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

CENAS ONÍRICAS




Havia muito nevoeiro
nos campos de girassois murchos;
planícies infindáveis e arbustos,
capins até não poder mais,
meu tio falecido
e alguém parecido com meu pai.
Havia muito nevoeiro...
Cores que corrompiam o ar espectral,
realçadas por luzeiros
que lumiavam salgueiros
à beira do lamaçal.
Havia muito nevoeiro...
Clarão de relâmpagos,
vozes entoando louvores
ao piscar dos pirilampos;
Outras cantavam pontos
em honra de Iansã,
marcados pelos tantãs.
Ouví árias de Verdi,
soluços de mulher abandonada,
canções de Tom Jobim,
prantos de crianças malcriadas
e um solo chinfrin
de guitarras mal tocadas.
Havia muito nevoeiro...
Um bando de cavalos alados
guiado por um alasão,
sobrevoando a estrada engarrafada
com bigas até na contramão.
Dentre aqueles que iam e vinham,
vários me chamaram atenção -
expoentes da humanidade
desde a aprimeira geração:
- Lá estava Eva -
que por alí trocara o nú
por uma roupa da Daslú;
Ao seu lado Adão,
em papo muito animado
com o patriarca Abrahão -
ainda moço e sem barbas -
os dois com a mesma cor de blusão.
Havia muito nevoeiro...
E numa curva acentuada
daquela estrada esburacada,
carregado por pagens rotundos,
identifiquei Ramsés II.
Um pouco mais adiante,
vestindo túnica barata -
que poderíamos chamar de bata -
realçando linhas elegantes,
mesmo sacolejada pelas passadas
dos elefantes,
reconhecí o perfil de Cleópatra.
Havia muito nevoeiro...
Sentei para melhor observar
pois passavam inúmeros guerreiros,
quando o despertador pôs-se a tocar.
Era hora do sonho acabar.


Camboínhas - Tarde de Sol
Setembro - quase Primavera! - 2012

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