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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

DESCOBERTA

Aconteceu
       em simples troca de olhar;
sem alternativas
       ou à quem apelar...

Fulminante,
       não como escapar;
desarmados,
       só nos coube aceitar,
                nos tocar,
                        mergulhar como loucos
                                  e aos poucos,
                                        no prazer esbaldar.

E no instante total -
        explosão dos desejos -
             nos sabermos de cor:
                       os vícios,
                              ofícios,
                                   o sabor
que como a água
     e o calor,
          são da vida o início.

E no sorriso após
      descobrirmos os dois
            o que é um sonho afinal :

São dois corpos amantes,
       exauridos, arfantes,
              mais que o bem e o mal !


domingo, 8 de janeiro de 2012

CANTO DA RAÇA


Karaoê... Karaoá...

Separe, asseie, amasse e coe;
Mexa, misture, apimente e doure;
Azeite, canele, prove e refogue;
Arrume, asse, enfeite e doe
pro seu Orixá.

Karaoê... Karaoá...

Consulte, peça, desafie e apregoe;
Cruze, despache, aguarde e colha;
Recupere, prove, sorria e abençoe;
Um ponto, um passe, um batuque que ecoe.




Karaoê... Karaoá...

Lamento, milonga, terreiro, gongá;
Galinha, pipoca, arroz e fubá;
Maçã, canjiquinha, abricó, mungunzá;
Morena mineira cozinha o obá;
Manjar dos santos; Yansã, Yemanjá.

Karaoê... Karaoá...

Canto, traçado, cruzeiro, alguidar;
Fitas, perfumes pro corpo fechar;
Mãe das Gerais, nos doe um olhar;
Luz que ilumine nosso caminhar;
Repiquem tambores, vibrem ganzás;
Por Ogum, Olorum, Oxum, Oxalá.




Karaoê... Karaoá...

Na história o açoite, porões e o mar.
- "Carrega, cavuca"! ...e tição a marcar.
No lombo a chibata - "Não pode parar" !
Suplício escravo, não dá pra olvidar.
Abolição, grande farsa, incapaz de mudar.
Fé no santo, muito canto, trabalhos e orar...

Karaoê... Karaoá...

A virtude da raça: - Saber esperar !
Músicas e ritos: formas de rezar;
Um soul, um funk, um jazz, um samba;
Um gol de Ronaldo, um Milton a cantar -
esperanças, indícios, de que vai modificar.
Onde quer se que esteja, reivindicar !








sábado, 7 de janeiro de 2012

FLASH

No frígido impacto neônico,
grilhões ancestrais braniram na noite
a saudade esquecida.

Sombras matizadas me envolveram
qual gritos-unguentos
em mensagens sinistras.

Vibrações indecifráveis
aos meus domínios,
rufavam qual atabaques frenéticos.

...era o rito da noite,
os segredos do mito,
o grito dos esquecidos.
                                                                         San Diego-CA

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

CONSELHOS




Chore...
pelo sorriso das crianças
magras, rotas, sem esperanças,
que nas esquinas das cidades
brincam de pedir caridades,
recebendo alguns trocados
pelas janelas dos carros jogados
por senhoras cheirosas,
desdenhadas, raivosas,
ante a imagem da verdade
que lhes afeta a vaidade
e não querem enxergar.


Sorria...
quando a vida se mostrar cruel.
Não culpe. blasfeme ou maldiga 
os Céus.
Olhe as estrelas, observe:
elas não mentem jamais !
...apenas brilham cada vez mais.
Quem sabe nelas,
enxergar um novo caminho,
será capaz ?
...mesmo que seja simples
ponto de vista:
dos mais populares ou do artista,
dos fanáticos ou dos ativistas -
simples questões conjunturais.





Chore...
pela riqueza dos que a sorte
neste mundo bafejou.
Seja aqui, no sul, no norte;
seja lá por onde for.
Os que herdaram a fortuna
sem uma gota de suor,
a ostentam com descaso,
sem vergonha ou pudor.
Na maioria solitários,
fracos, tímidos e sem louvor.
Apesar das aparências,
da pompa e solenidade,
desconhecem o sentido
de fraternidade.


Sorria...
quando a tristeza se fizer
e a mágoa em seu coração alojar.
Veja os pássaros, observe as flores,
que nas gaiolas ou nos andores,
soltos ou nos campos alhures,
cantam, brilham sem reclamar.
É que são sábios portadores
das certezas que Deus lhes deu.
São livres, puros, belos
e não invejam o que é teu.












Chore...
pelo olhar daquele velhinho
que sentando alí, sozinho,
observa passarinhos
pois não tem com quem falar...
foi-se o tempo, foi-se a vida,
foram-se os amigos e o lar;
só lhe restam as avezinhas
e estórias prá contar.
Um banco, uma praça
e ninguém para escutar.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O POETA E A MODELO

Acima...
um pouco além dos arco-íris inconscientes,
logo após o quarteirão dos sonhos e pesadelos,
próximo ao habitat das alucinações e
onde os frutos estão maduros,
a primavera perene.

Lá,
sob um céu livre de artefatos,
na relva desenhada -
própria dos campos oníricos -
nos encontraremos.

Primeiro a surpresa:


         - Como ? 
                            Por que ?

Após a constatação:


          - Estaremos nus e oniscientes,
                             sem futuro ou passado,
                                       apenas o presente...
        
         Nossos corpos e o fundo infinito!

Lentamente  
          a intuição resposta:


           - Todos os teoremas,
                       dúvidas,
                             mistérios,
              se desvendarão alí
no universo sensorial de nossos corpos;
                                          
             cujas curvas,
                      protuberâncias,
                            rugas
                                   e reentrâncias,
           deverão ser tocadas,
                      bolidas,
                            pesquisadas,
                                    lambidas.


                 -  ...urgirá acuidade,
                            curiosidade,
                                   perseverança:
                 na mais imperceptível dobra
                 poderá se ocultar
        o ponto fundamental do prazer.

                Necessitará delicadeza,
                            atenção,
                                   sutileza.
                         Toques leves,
                              suaves,
                                    plenos de safadeza...

                Um suor retoucador
                    lubrificará nossos corpos
                         garantindo brilho
                              à revelação final.


                Após,
                   tangidos pela frequência cardíaca
                            alterada,
                                   tensa, 
                                       quase infartada,
                      com premência de náufragos
                               nos agarraremos
                         como à tábua de salvação.

                             Valsas em dó maior,
                             polcas em ré menor
                              serão compostas
                                por murmúrios,
                             gritos e sussurros
                       sob a batuta do prazer.

                  Enjaulados no universo sensorial
                          atingiremos juntos
                   o egoísmo absoluto do goso
                        e nos traduziremos:

           - As mil caras da menequim famosa
                      desfilarão em "big close"
              no "slow-motion" das convulsões
                                do prazer.

            - Os murmúrios do poeta
                 nos pícaros do tesão,
           desnudarão seu estilo barroco
                         quase rococó.

            ...e nos instantes maiores,
                   mistura de id,
                          libido,
                              ego 
                      e sensações,
                singraremos galáxias
              espalhando o gen amor !