Enquanto ela não vem
vamos aproveitar:
apropriar felicidades,
sonhar sem responsabilidades,
ultrapassar limites,
zombar dos temerosos,
fugir das formalidades,
satisfazer necessidades,
exceder nos riscos,
abusar dos gordurosos -
(Não terão tempo de nos fazer adiposos!)
beber todas - Viva Baco ! -
não contemporizar com torração de saco;
proporcionar êxtases em cascatas,
bolinar pessoas chatas.
Enquanto ela não vem
vamos comer chocolates
que, como diria Pessoa,
possuem mais metafísica
do que imaginou César Lates;
Vamos dar olhos à Justiça,
acabar com a Polícia -
fica proibido proibir! -
praticar desobediência civil,
insultar os maus políticos -
manda-los prá puta que os pariu ! -
criar um governo de sonho e fato
que não dintingua forte e fraco,
meio onírico, meio anárquico,
que faça soar as trombetas
anunciando o fim dos caretas.
Enquanto ela não chega aquí,
brindemos qualquer falácia -
com uisque ou com cachaça -
comamos torresmo, chouriços e rabanadas;
revivamos a pompa da monarquia,
degustemos tâmaras, damascos e uvas -
tudo por conta da viúva
que vem sendo depauperada
por um bando de saúvas.
Derrubemos os templos de trapassa -
um dia é do caçador, outro da caça -
arrombemos portas, quebremos vidraças,
façamos saliências nos bancos das praças,
mijemos nos obeliscos cafonas,
sejamos a um só tempo:
sérios e sacanas.
Enquanto ela não chegou ainda
(já deu sinal de que está vindo)
vamos cometer desvairíos:
- Cavalgar Rocinantes,
reeleger Bucéfalo ! -
o cavalo, não a mula! -
enfrentar moínhos,
desdenhar ameaças,
misturar religiões e raças,
ensinar à Sócrates o que não sabia,
polemizar com Platão, reescrever filosofias.
Desprezar boas maneiras,
acabar com as segundas-feiras,
dar espaços prás besteiras.
Enquanto ela se demora
(mas pode chegar a qualquer hora!)
saiamos sem rumo, lugar ou prumo,
tiremos a Madre do convento,
do hábito e da castidade -
a mais sublime das maldades ! -
a mandemos de trem de primeira
prá Passárgada de Bandeira
pecar por caridade,
encontrar Vinicius e,
de quebra, Mario de Andrade;
falarem de pureza que,
no fundo é pura sacanagem.
Enquanto ela não dá as caras
(está muito próxima!)
vamos escrever poesias,
rimar amor com orgias
pagar com moedas podres,
esvaziar todos os coldres,
comprar mariola na feira,
virar cambalhotas, plantar bananeiras,
exercitar os Kama-Sutra e
recuperar, socialmente, uma puta.
Mas quem é ela afinal?
Será do bem ? ...do mal ?
Será senhora ?
Será donzela?
Será obesa?
Magricela?
Sisuda?
Tagarela?
Digam-me quem é ela !
...os que a viram, não podem contar;
os que a descrevem é por imaginar;
Alguns a consideram uma porta -
que imagem mais torta ! -
de um novo patamar;
outros, um bálsamo que os aliviará
(mas se cagam de mêdo de vê-la chegar);
há ainda os qua a buscam
por não conseguir esperar.
Eu aquí no meu cantinho
fico só a observar:
- Seja rico, seja pobre,
de repente ou devagarinho,
ela um dia vai se apresentar:
trata-se da grande igualdade
(sete palmos de terra)
da qual ninguém pode escapar...
Essa fêmea incógnita,
discutida, dissimulada, temida,
mais que o avesso do avesso
é a antítese da vida,
Chácara Campinho da Serra - Serra-ES
2006
Comentar:
- Comentário de Arlete Brasil Deretti Fernandes
- PAOLO!
Releio, pela admiraçâo! Beijosssssss
- Comentário de Janete Sales
- Amigo Paolo eu sou fascinada por imagens,
esta só de ver, já dá medo! Nos diz muito! "Risos"
Seu Poema é deslumbrante e nos prende a atenção até o fim!
Um grande abraço!
- Comentário de Sueli Fajardo
- Enquanto ela não vem, que seja a Vida a nos acompanhar. Acredito que ela é irmã gêmea da Vida e com muuuitaaaaa inveja...
Maravilhoso, criativo, surpreendente poema. Parabéns! - Comentário de Loubah Sofia - Top PEAPAZ
- Um brinde a Ela, Amigo Paolo...
tim tim!!!
Mais um? - Comentário de Loubah Sofia - Top PEAPAZ
- Sim, claro com imenso prazer, um brinde especialmente a Ti pela majestade
com que lidas com o desconhecido tão familiar.
Então, vamos lá?
Tim tim!!
Que venham-nos a nós de Ti mais outras odes tão belas quanto essas e mais brindes.
- Comentário de Sílvia Mota
- E, releio... somente para aplaudir mais uma vez!
- Comentário de Lúcia Cláudia Gama Oliveira
- Comentário de Jorge Cortás Sader Filho
- Hehe! Eita moço atrevido, de bem com todos, de bem com a Vida! Poesia assim, ainda não vi não
- Comentário de Arlete Brasil Deretti Fernandes
- PAOLO- ode espetacular. É original, interessante, engraçada. Muito boa. Vários destes versos são cobiça de muitos. rsrs Parabéns, amigo poeta! Valeu mesmo!
- Comentário de Sílvia Mota
- Releio... e ainda admiro...
- Comentário de Francisco Rangel G. de Oliveira
- Negra, branca ou amarela...
Não se vive sem pensar nela!
Quando compro um sapato novo
Uso logo!... Não quero esperar para usar na viajar com ela!
Não vou deixar de comer a rabada nem mesma a picanha!...
Por que sei que de uma forma ou de outra ela vem e me abocanha!
Gorda ou magrela... Agarro-me a qualquer uma!
Por que sei que depois dela... Não pegarei nem banguela!...
Sei que você sabe!... Mais temos medo ate de falar no nome dela!...
Poeta Paulo... Teu texto lindo de dar medo quem morre de medo dela!...
Abraços... de um Castelense(capixaba/Espírito-santense ) de coração!...
- Comentário de Marcia Portella
- Acho que "Ela"é uma mulher calada ...........................
- Comentário de Mônica do S Nunes Pamplona
- Maravilha de leitura.
Irreverente e atraente. Usa e abusa de um sincronismo perfeito.
Adorei.
Parabéns.
- Comentário de Marcial Salaverry
- O melhor que se pode fazer...
para gostosamente viver,
é fazer tudo que der prazer...
Abraços solidarios, pois temos que viver enquanto vivos estivermos...
Marcial
- Comentário de Hildebrando Souza Menezes Filho
- Uauuuuuuuuuu!
Que delícia! Até que enfim encontrei alguém aqui
que pensa igualzinho a mim (risos) e com mais
graça e talento para descrever a vida em toda a
sua beleza, dimensão e intensidade. Parabéns amigo! Na
tua "lápide" (eventual-Deus nos livre de perder-te) deveria escrever-se assim:
Aqui jaz um poeta que soube viver! ABRAÇOS agradecidos porque
soubeste trazer para a PEAPAZ a verdadeira e salutar
provocação poetal genial, mas cuidado com as penas de Cortás
porque ele é pimenta braba tumultuosa que em dose cavalar
leva a hemorroida. Permita-me o gancho ilustrativo do teu conteúdo
sensacional com um duo meu de sobremesa...
ODE À VIDA SOBERANA- Duo Malu Monte e Hildebrando Menezes
http://www.youtube.com/watch?v=6WySNVc35co
- Comentário de Sílvia Mota
- Conteúdo temático desenvolvido de forma absolutamente sensacional! Estrutura curiosa, que oferece dinamismo à leitura do poema. Original. Parabéns! Beijossssssssssss
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