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quinta-feira, 24 de setembro de 2015

NOITE

                                                                                               
                                     A noite com passos verticais, 
escala janelas, telhados,
jardins, bairros e tudo mais
que se interponha aos seus caminhos,
vontades, dengos e determínios:
- A bela árvore escurece,
a moça top, envaidece,
ao doente terminal, esquece
e a saudade, favorece...
A noite, como passos de tango,
volteia, milongueia, causa espanto,
dramatiza o canto, abriga sonâmbulos,
bêbados e pirilampos.
Excita o louco aos delírios,
provoca o cantar dos grilos,
a temperatura, retrai, traz o frio
e, aos amantes, arrepios.
A noite se enfeita com brilhos -
estrelas, lua, luzes em estribilho -
inspira os poetas solitários,
proporcionando-lhes sonhos e presságios.
Uivam os cães em seu louvor -
como lamentos de profunda dor -
viúvas lastimam as perdas,
vêm vultos nas cabeceiras...
A noite apaga o dia
e obriga-nos ao sono que repõe energias.
Oferece sonhos,
pesadelos medonhos
e dá espaço para orgias...
E quando chega a madrugada,
escapa em disparada
tocada pela alvorada
que outro dia escancara.
                        Julho/2015
Exibições: 60

Comentário de Marcia Cristina B. N. Varricchio quarta-feira
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Comentário de Marcia Cristina B. N. Varricchio quarta-feira
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Caro Poeta,
Como sempre os seus versos vêm num crescente, coloca-nos num ritmo envolvente, chega a uma tensão máxima e encerra...A noite.
Parabéns!
Comentário de Waulena d'Oliveira Silva em 5 agosto 2015 às 4:00
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Maravilhosa a tua noite, Paolo !
Parabéns !!!
"... E quando chega a madrugada,
    escapa em disparada
    tocada pela alvorada
    que outro dia escancara. "
Bjss Wau

Comentário de Arlete Brasil Deretti Fernandes em 1 agosto 2015 às 21:02
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Belíssimo poema, Paolo!
São lindas as tuas metáforas!
"A noite, como passos de tango,
volteia, milongueia, causa espanto,
dramatiza o canto, abriga sonâmbulos,
bêbados e pirilampos."

Comentário de LOURDES RAMOS em 1 agosto 2015 às 16:08
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Cada dia, para à noite, é como se fosse o primeiro ou o derradeiro... Ela nem se toca, mas junta-se ao tempo que nos sufoca...  
Comentário de Maria Iraci Leal em 1 agosto 2015 às 1:29
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terça-feira, 22 de setembro de 2015

CONFISSÕES II

        Dispenso cravos e cruzes;
Quando chego, apago as luzes;
Não temo a escuridão -
abro-me à terceira visão.

Num mundo de símbolos
moram mitos,
escrevem-se histórias,
coreografam-se ritos,
dão-se glórias,
multiplicam-se aflitos
em busca de fama
que, tal qual uma lama,
envolve e inflama
a boçalidade humana.

Dispenso religiões e bandeiras
que, como imensas caldeiras
de óleos crus, fervilhantes,
são ameaças constantes
duma fé transbordante,
beirando a insanidade -
guerras, preconceitos, maldades...

Dispenso letras eternas,
palavras divinas
sobre o homem e sua sina
que estanca o tempo, discrimina.

Loucas quimeras.
A vida se renova nas primaveras.

                                         Setembro/2015