OCEÂNICO

Neste braço que te abraça,

puxa, levanta e nada,

entre ondas em ressaca,

caldos e engasgadas,

correntezas e pancadas,

lhe oferecendo morada,

calmarias e plácidas águas...

Neste momento de pavor,

entre a morte e o amor,

luta ferrenha pela vida,

que te confesso, querida,

o que és, sem saber ainda...

Contigo em meus braços,

por desejo do acaso,

nesta situação aflita

entre o afogamento e a vida,

envoltos na cor azul, fluída,

em meio ao mar revolto -

desconsertante geografia

que venceremos, por suposto

e, após todo um esforço titânico,

poderei declarar-te meu amor oceânico.

                           Julho/2015

SALVAÇÃO

Caminhou sob o sol

entre cacos de lembranças

e servis esperanças,

sentindo a vida esvair.

- "Seguir, seguir, seguir"...

Entre soluços de saudades,

marcas de maldades,

segredos escondidos

e elos rompidos.

- "Partir, partir, partir"...

Dançou com o vento

um tango lamento,

traições e relentos,

sarjetas, cães pestilentos.

- "Ciumento, ciumento, ciumento"...

Angustiado, ensimesmado,

caído, amargurado,

choveu no molhado

e quedou-se derrotado.

- "Isolado, isolado, isolado"...

Escreveu um poema,

juntou fonemas, vários temas -

Sim,tudo que lhe restou,

apenas a poesia sossobrou.

- "Salvou, salvou, salvou"...

                                  Piratininga, julho/2015 

MOVIMENTO

Tudo muda, se move...

Próximo da verdade,

ela foge,

se recria, resvala,

segue na guerra,

na mesma e velha passarela,

alheia aos movimentos do tempo,

sem intento,

pedra, sobre pedra.

O amor soma, o ódio esfacela.

Tudo ali, na mesma célula.

Partitura antiga,

cansada de ser ouvida,

cantada, distorcida

ao longo da vida.

Resta o sonho que ilude,

disfarça, traz juventude,

transmuta realidades,

aponta felicidades,

gira a roda

mas, infelizmente, acorda.

Tudo muda, se move...

Seguremos o que se pode.

                 Julho/2015

HISTORINHA

Incompatibilidades,

opostos, polaridades,

água e óleo,

valores episódicos,

dúvidas, atritos,

desamores e armistícios,

bates, rebates,

caminhos aflitos,

migalhas, detritos,

volta ao início,

repetição,

amor na contramão;

- O que fazer com o coração ?

O HOMEM

    

I
O homem múltiplo,
 povo, eleitor,
vigiado, ensinado,
embora safo, acuado.
Fornido, formado
para se dar bem
no pedaço
e identificar o mal...
- Pró ou contra ?
- Uma questão salarial,
de grana, bufunfa.
Do essencial.

II

O homem moderno,
focado, atual,
ligado no tempo
agora global,
24 horas atento
a qualquer movimento
dos bilhões que ao vento
possam lhe fazer mal...
E a Polícia Federal ?

III

O homem asfáltico,
informado, intencional,
que se mija de medo,
acorda cedo, lê jornal,
faz exercícios, 
detesta comícios,
esconde vícios.
Comidas ?...Só natural.

IV

O homem porca
duma estrutura maldita,
que engana, explica,
a origem do mal:
- Individualista corrupto,
fingindo-se justo,
explora o próximo.
Vitaminado, ecológico,
novo Neanderthal
que só não anda de quatro
porque para mãos
não tem sapato.

V

O homem ideal,
babaca serial
que acredita na justiça,
prega a igualdade,
é fraternal.
Inimigo do Sistema,
preocupa-se, tem pena,
da infância abandonada.
Grita, fala,
das possibilidades de inclusão
pela simples divisão
daquilo que nos sobra
às mãos.

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